quarta-feira, 10 de março de 2010

Lembranças de uma queda...

A velocidade é estonteante,
enquanto meu corpo gira no ar,
vejo de relance o fogo destruindo tudo ao seu redor,
os estilhaços de vidro e aço fuzilam minha carne...
...carne esfacelada...

Dessa distância vejo alguns quadrados no chão,
o calor do fogo ainda está presente em minhas roupas,
minha garganta está seca,
mesmo na eminência da morte só consigo pensar num copo de Whisky...
...Whisky doze anos...

Meus pais não queriam que eu me alistasse, mas os jovens tem a mania de achar que sabem tudo e que são invencíveis. Tem aquela certeza de que nada pode acontecer com eles, sempre acham que não erram... bem... eu errei...

Vejo quadrados no chão se aproximando,
meu coração está acelerado ao extremo,
meus pensamentos estão desconexos,
e de face com a morte eu me sinto vivo...
vivo como se não houvesse um amanhã...

Do empurrão que levei até agora,
poucos segundos se passaram,
mas a sensação que tenho é de que cai a vida inteira,
mas desta vez não vou me levantar...
levantar é um sonho distante agora...

Estávamos de tocaia quando fomos emboscados pelos amarelos. Quanta ironia... Dois dos meus companheiros foram mortos com tiros na cabeça, meu algoz não foi tão sensível, atirou em minhas mãos antes que eu pudesse revidar o ataque e me empurrou pela janela... devia ter escutado meu pai...


... pela última vez eu respiro...
... pela última vez eu choro...
... pela última vez eu fecho meus olhos...
... pela última vez eu me lembro do mundo...
... agora eu faço parte dos quadrados no chão...
...

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